Um breve pensamento sobre como transcender e ter voz em sociedade

As relações são pautadas em tudo que fazemos e realizamos, temos a questão da hipercorreção e das várias personas que adotamos em vários contextos. Nunca somos os mesmos em diversas situações. Nesse sentido, a transcendência talvez seja algo que me faça ir além das minhas maneiras e do meu modo de pensar, tentando e buscando me adaptar a contexto aos quais poderei me beneficiar, como em um contexto profissional por exemplo. Não creio isso hipócrita ou falso, as pessoas fazem isso todos os dias, porém não tem coragem pra falar sobre pois pra uma narrativa, é mais bonito dizer ser incorruptível, é mais lindo e sonoro, e ainda é mais maravilhoso falar isso quando não se tem contas a pagar ou família para sustentar.

Em contexto profissional, não se quer alguém que pense, mas se quer alguém que dê lucros. Logo, as duas ideias se contrapõe, você pode ficar dentro da caixa e dentro do senso comum, ou você pode, bem embasado, buscar meios que tragam lucro a sua empresa, então ganhando importância e transcendendo o seu senso comum como forma de ter uma autonomia.

A transcendência com o próximo está em transcender a si mesmo dentro de algo maior em que você está situado, o modo que você transcende, modifica e transforma o seu contexto e suas relações com o próximo.

Ondem Crescem as Flores?

Minha ausência aqui não é justificável,  culpa toda da minha falta de organização onde me perco em meio das relações em vários âmbitos da vida adulta.

Porém, hoje um sentimento fatal toma meu peito, algo que não entendo, mas me vejo na nostalgia de viver o que não pude viver. Não que esteja culpando alguém, ou talvez as ocasiões podem ser causadas pela minha forte falta de memória. Os amantes de literatura, aqueles amantes de texto literários fortemente regidos de poética e significância que me desculpem, mas hoje, escrevo do vem do fundo da minha alma e é sobre BBB. Sim, Big Brother Brasil, estou interrompendo os estudos e tarefas para escrever sobre um reality show. Não dessa saída que ocorreu ontem, mas sim de coisas que ocorreram a muitos anos, caso fique até o final, talvez entenda, caso não queria, feche esse site e leia Shakespeare.

Lembro de meus amigos na frente da caída da casa de um deles, falando sobre a primeira festa de uma edição do Big Brother, aquele tempo era “descolado” assistir o programa. Falavam sobre o jeito que o participante Alan dançava travado e de suas tatuagens de estrelas nas costas. Eu não sabia, tentava chutar pra entrar no assunto, minha casa era pequena e só tínhamos uma televisão em um quarto onde ficavam meus pais, como meu velho levantava cedo, não podíamos assistir pra ele não ir dormir tarde.

Alguns anos depois, eu estava junto com esses mesmos amigos comentando as propagandas da nova temporada que logo iria estreiar. Havia um participante “Alemão” que dizia que ia pra cima caso viessem pra cima dele, ou algo do tipo, não me lembro direito, mas a fala dele era firme. Eu e os amigos concordamos que posturas como aquela não ganhavam reality’s.

Com o tempo, aquele participante foi nos ganhando pelo carisma, agora eu podia assistir, meu pai não estava mais em casa. Alemão teve seus processos de desenvolvimento e a sua “jornada de herói”, cresceu, amadureceu, evoluiu e no fim… Ele se apaixonou por uma mulher a qual chamava de “porta”, uma forma de chamar ela de burra, mas enfim, ela o dispensava, e o Alemão dispensou outra mulher por essa “porta”, ou apenas “Siri”.

Um dia, os dois foram ao paredão, antes de citar quem era o eliminado da semana, o apresentador, Pedro Bial, sitou alguns versos de Menotti Del Picchia de um poema chamado “Juca Mulato“:

“… Ter, a um sonho de amor, o coração sujeito
é o mesmo que cravar uma faca no peito.
Esta vida é um punhal com dois gumes fatais:
não amar é sofrer; amar é sofrer mais!”

A Siri saiu, e um tempo depois, o Alemão venceu, ao sair da casa, ele a encontra correndo a seus braços e a beija, o herói venceu.

E hoje, em um primeiro de abril eu me pego em meio a uma quarentena assistindo essa saga novamente. Não sei a razão. No tempo que os dias mal possuiam datas mas possuiam horas e épocas. Aquela vida gostosa de mistério e esperanças, de sonhos que nunca se realizaram e não podem se realizar hoje em dia.

Quando eu dormia com esperança, quando eu tinha a metade da idade que tenho hoje. Perdido em amores que nunca tive, mas que muito sonhei ao ponto de quase os ver como reais. Onde eu tinha meus amigo, onde eu ainda não sabia quando os que estão mortos morriam, hoje eu sei mais ou menos.

Quando eu esperava crescer e que as coisas acontecessem, mas elas não aconteciam. Antes de eu aprender que ter sorte é importante, mas ter dinheiro te ajuda bem mais ainda. Que mesmo a gente se esforçando e dando o melhor, ainda terão pessoas que vão nos julgar e chamar nosso trabalho de lixo.

Pessoas que se aproveitaram de um pequeno deslise pra fazer discursos de auto afirmação seguindo ideologias, acreditando em uma vida virtual, tentando atender o desejo e o sentimento de se sentir completo com discursos extremistas de oito ou oitenta, achando que estão revolucionando o mundo, que irão criar um mundo melhor. Já pensei assim, por isso não culpo, apenas sinto o ódio remanescente de suas ideologias. E sinceramente, eu não vejo solução.

Eu apenas enxergo a pensando que podia fazer mais, que podia ser um daqueles milionários jovens que aparecem na TV, mas não, eu não sou. Sou gado, sou número, sou estatística, um CPF esperando para ser dado baixa. Não sei se é a falta de um lugar de pertencimento, ou algo assim, é que um dia você acorda e se liga que mesmo se esforçando, seus pés só te levam a lugares que te mostram o quão diferente é, o quão onde está por caridade, que a realidade é que você já nasce pra ser ninguém, que você não entrará nos livros de história, e que você culpa quem não sacou isso, mas sabe que esses são quem realmente tem chance de aparecer por serem números maiores. Que mesmo estando assim, ainda se sente mais vivo do que os outros.

E daí você descobre pessoas dizendo que o Alemão foi convidado para entrar no reality, o quão de verdade não sabemos, mas isso o torna um herói menor? Acho que não.

Tinha literatura no Big Brother Brasil, programa que anos depois os “intelectuais de internet” disseram não prestar.

I Love Quebrada

A raiva e a ignorância são atalhos para o medo transvestido de respeito.

A rua é escura, as entradas são perigosas e você é mau.

O vento é frio, você está de casaco, mas sente o ar pelas covas das suas costas.

Com o queixo enfiado no casaco, como uma tartaruga dentro do casco.

Ao chegar a primeira curva, você avista três caras e sua espinha de automático gela.

Eles vestem causas largas caindo, tênis folgados quase saindo do pé.

Eles não tem cor assim como você, pois só existem vultos e sobras a noite.

Você sabe que se algo acontecer, ninguém vai ver.

Eles fazem contato visual com você, se cutucam e enfiam as mãos dentro da blusa, você faz o mesmo.

Você parece um chocalho humano, por causa das moedas soltas no seu bolso.

Você mal consegue pensar em algo, sua respiração é rápida e suas pernas tremem, mal dá pra perceber.

Eles chegam perto, você não abaixa a cabeça, os olha nos olhos e faz um cumprimento com a cabeça e sua boca faz “dae”, ele se olham, acham que você é conhecido, respondem o seu cumprimento “dae” e seguem o rumo.

Ufa, você está salvo.

Você vira a próxima rua, “droga” você pensa, lá vem dois caras montados em uma moto.

Você fecha a cara e lá vamos nós outra vez.

Inveja

A vida vazia que me leva 

No sentimento agudo no peito é apertado

Como sangra, como sangra? Como sangra…

Meu peito sangra sem ferida alguma

 

Amor da minha vida vazia

Não vou mais te tocar

Não por enquanto…

Você me faz mal, 

Mas isso não depende de mim

E nunca dependeu…

Nunca dependerá 

 

 

17.08.2013

Perto de Você

Me sinto feliz, as horas passam, contos os segundos e os milésimos pra você saber

Uma mistura de amor e receio é sentimento que não consigo nomear

Já caí tantas que o chão me é familiar e ele me abraçou, seu aconchego me fez ficar

Espero, e isso também me trás medo. Tremenda dor de cabeça

Que bom ou ruim, espero seu não ou sim

Aguardo os sorrisos, mas as lágrimas também podem vir a ser reais

Por você, minha doce ilusão de cabelos pretos, molhados e encaracolados

A Velha Grande Árvore.

Parece que ontem, mas já faz anos do dia que estava com alguns amigos embaixo dela árvore olhando pra cima.

– Olha lá, não dá pra ver direito mas está lá em cima, as assinaturas da minha mãe e dos meus tios – disse ele apontando para alguns machucados no tronco – é que ela cresceu…

O terreno era grande, valiosos verões passei nele brincando, até mesmo quando ia pra mata e me perdia olhava por cima procurando a grande árvore que dai, já sabia pra onde era a casa.

Ao lado dela ficava um galinheiro, atrás seus arbustos com espinhos, de frente para um poço fechado e um pé de pêssegos meio “bichados”.

Duas casas de madeira com banheiros de material, hoje pelas minhas lembranças, conto nove crianças, seis adultos, um jovem homem, um adolescente, três anciões, três gerações.

Histórias secretas de uma família grande, com personagens variantes, tento como coincidência o sangue, histórias que ela viu todas, mas nunca pode ou poderá ou poderia repetir.

Era larga como uma casa, era espinhenta aos distraídos, era aeroporto para pássaros que jamais irei ver em natureza novamente, soltava painas brancas que pareciam algodão, tinha flores roxas e era linda e verde na primavera e verão.

Acho que pelo seu tamanho, ela já devia estar lá antes dos primeiros moradores chegarem, considerando que é um bairro com menos de oitenta anos, vi seu fim ontem, 30.05.2018.

Em meio a protestos por combustível eu sofria por uma árvore de um terreno que não era meu, até mesmo aquelas crianças pareceram não se importar com sua despedida.

Aquela árvore onde um dia já havia servido de refúgio para um esquilo. Agora no lugar daquelas casas de família tinha várias propriedades de pessoas diferentes.

Ouvi falar que um galho caiu na casa de um dos novos moradores, ouvi falar que estava podre e que pediram autorização a prefeitura para cortar, ouvi um motor fazendo barulho alto, achei ser uma moto. Quando sai do portão para trabalhar, por coincidência vi e ouvi um dos grandes galhos cair.

Já tinham me falado que isso ia acontecer, podia ter tirado uma foto, mas preferi deixar guardado dentro do coração, mais que uma memória de infância, mas sim uma doce lembrança de dias sem datas e muita diversão. Guardada com carinho, a velha árvore está!

Uma futura frustração

Essa entrada de ano foi diferente. Tem uma casa em uma esquina próxima a minha a qual tenho uma vista privilegiada. Lá tem um casal de vizinhos de idade mais avançada, um casal muito simpático.

Lá, antigamente morava um casal netos de filhos diferentes. Um garoto ao qual nunca mais ouvi falar e uma garota que em dadas especiais sempre aparece por lá. Lembro da garota na mercearia com sua mãe. O dono da venda sempre a perguntava sobre sua saúde. Era pálida, eu achava linda aquela palidez, mas parecia meio doente. Depois que cresceu, ficou ainda mais bonita, não achavam mais estranha a palidez, ela combinava com as curvas de seu corpo.

Aquela garota se mudou e agora visita os avôs em datas, no dia primeiro de ano é garantido. Comecei a lembrar dos anos passados. Eu e meus dois amigos mais fiéis pegávamos os skates e ficávamos descendo a rua mandando as manobras que conhecíamos pra ver se ela olhava pra gente, às vezes olhava, mas por acaso, eu acho…

Em outros anos, jogávamos futebol na frente da casa dos avôs, tudo pra ver se ela de algum modo sairia na rua puxar conversa com a gente. Queríamos uma chance, uma forma de puxar papo, rainha dos vagabundos mesmo sem saber, não sei nem se nos percebia realmente.

Esse ano, sozinho em casa, sentei-me na área e a vi de longe na casa. Fiquei imaginando formas de chamar sua atenção, pensei em pegar o skate ou a bola, mas a história, já revelou aquilo algo sem efetividade. Meus amigos, já não tenho mais. Um entregue aos bares, outro, a um relacionamento, não precisa mais tentar chamar atenção de garotas na casa de avôs…

Em toda minha maturidade de homem adulto, pensei em pegar o carro e dar algumas voltas em volta da quadra com o som alto e depois parar na frente da casa de seus avôs, onde tem um grande espaço vazio.

Comecei a imaginar a cena e em um primeiro e rápido momento pensei em ela me olhando. Mas foi só isso, depois imaginei eu abrindo a porta do motorista e descendo, eu estaria usando uma camiseta, calção e sandálias. A porta do passageiro se abriria depois, sairia aquela a qual penso tanto nesse verão entre décadas, ela estaria sorrindo. Do banco de trás, sairia um menino de seis anos de idade, rápido, sorrindo, quase explodindo de emoções. Minha amada, mandaria ele esperar. Depois tiraria um bebê da cadeirinha, eu a ajudaria e ela o pegaria em seu colo. Meu cachorro, me reconheceria dos tempos áureos e nesse momento já latiria alto, pulando e abanando o rabo. Meus pais abririam o portão e nos esperariam, eu estaria com uma bolsa de bebê no ombro. Olharia para os lados da rua e já que não viria carro, minha esposa soltaria da mão de nosso filho e ele atravessaria correndo indo em direção a meus pais, gritando: “vovô!!!”

Eu abraçaria a mãe dos meus filhos e andaríamos até chegar de frente a meus pais, eles nos receberiam sorrindo. Minha mãe iria sorrir para o bebê e falar como ele estava grande.

A garota pálida, a linda garota pálida, perguntaria a avó se era eu e se havia me casado. Sua avó responderia que sim e que a muito tempo, já não morava na vila. Ela observaria a minha família e passaria a mão no cabelo.

Nesse momento, acordei do devaneio. Aí então percebi, algo tinha mudado dentro de mim. Não era só meus amigos que não tinha mais ali, não tinha mais nem a mim mesmo. Só tinha, um sonho quase impossível, porém, até que coerente a possível possibilidade.